“Não suporto críticas”
Outro dia estava assistindo a um vídeo de um filósofo proferindo uma palestra sobre temas importantes como afeto, reconhecimento e sobre a nossa sociedade atual, tão conectada e ao mesmo tempo tão solitária.
Nos comentários do mesmo vídeo havia algumas críticas, inclusive em vídeos que estavam de alguma forma combatendo as ideias desse filósofo.
Fui mergulhando nos debates até que me deparei com um vídeo de 45 minutos feito especialmente por esse filósofo para combater às críticas que tinha recebido de uma determinada pessoa, mas com ira e xingamentos.
E nos comentários, uma inundação de pessoas se maltratando nos pólos da discussão.
Conclusão.
Duas.
- Até um filósofo erudito não suporta críticas.
- Há um tipo de gene humano que predomina em pessoas que se ofendem profundamente com a opinião alheia. Chamo esse de gene ofendidinho.
O gene ofendidinho precisa de adrenalina. Adora entrar em discussões e seu radar está ligado na busca de debates acalorados.
Essa é minha conclusão acadêmica e científica postulada na revista “Stavros Science Compendium – Sei de p.. nenhuma, mas tenho opinião e pega eu..”
Brincadeiras à parte, eu escrevi em um outro artigo, que as críticas são como um peido: O do outros é muito ruim, mas passa rápido.
Por que raios uma pessoa fica horas em debates inócuos, ofendendo os outros e sendo ofendida? Só pode ser uma condição genética, creio eu.
Mas o problema das críticas é muito mais profundo, principalmente quando o medo que se tem de críticas cria uma paralisia na capacidade produtiva.
A pessoa tem medo de ser criticada então ela vive escondida em um buraco. Sua crença é: “Não mexo com ninguém, ninguém mexe comigo.”
Acontece que para produzir o seu melhor, você precisa dos outros. Ao conviver com os outros, as diferenças vêm à tona. E aí, na primeira dividida, o gene ofendidinho grita “Volta à toca! Dói demais lidar com gente.” E lá vai a pessoa de volta ao seu mundo, reduzindo sua interação humana, por conta do gene ofendidinho.
Outros viciam nas discussões. O gene ofendidinho manda guerrear o tempo todo. A vida passa a ser uma caça às discussões. E a pessoa passa a interagir com os outros na base de críticas, opiniões (que muitas vezes desembocam em ofensas), debates e as duas placas, uma em cada mão: “Concordo” e a outra “Não concordo”.
Você acaba de dar uma opinião sobre a cor do bico dos pelicanos das Ilhas Seychelles e lá vem alguém te dizer: “Concordo. Eu acho que os pelicanos blá blá..” ou com um “Discordo… Os pelicanos não tem um bico amarelo fosco a ponto de …blá blá..”
E lá vai começar um embate de argumentos, que tende a se deteriorar em sua forma e qualidade, até que um se ache ganhador da discussão.
Eu imaginava que isso era uma infantilidade, falta de equilíbrio emocional e principalmente achava que era uma questão de educação.
Mas não. Estava completamente errado. Hoje creio que seja uma condição, assim como a Síndrome de Asperger e outras. Você nasce com isso.
Como explicar um filósofo septuagenário não suportar críticas a ponto de gravar vídeos inteiros e se rebaixar tremendamente em debates inócuos?
Como explicar centenas de pessoas se ofendendo em comentários ao redor de temas polêmicos?
Polêmico é um adjetivo que tem origem na palavra grega “pólemos” que significa “guerra”.
Assunto polêmico é um assunto que implica em discussões acaloradas. Isso está ok. Agora xingar os outros, usar termos chulos e tentar reduzir os outros, para mim é coisa do gene ofendidinho.
É o uso e abuso da falácia Argumentum ad hominem (argumento contra a pessoa) que é quando alguém procura refutar os argumentos do outro com uma crítica ao seu autor e não ao seu conteúdo.
João fala: “Eu acho que o Brasil deveria aceitar X como política social”
Maria responde: “Nada a ver! Mas o que comentar de uma pessoa, que nem diploma tem”.
Maria, não tem argumentos para debater X por isso recorre em reduzir o autor do argumento, na tentativa de anular a importância desse argumento.
Aí está montado o palco da polarização: De um lado estarão os defensores de João e do outro os da Maria. Uma colônia de genes ofendidinhos irá se deliciar em tormentas de adrenalina. O resultado final é nada. O argumento X ficou no cantinho esperando “alimento”, tão importante na dialética.
E a coisa pode piorar. A imprensa pode pescar nesse mar de opiniões, alguma de uma pessoa notória, um jogador de futebol, ou um político, um artista. E aí vai estampar: “Fulano falou que X é igual a Z!” Pronto, mais alimento para os genes ofendidinhos, mais audiência para os portais.
Os debates são imprescindíveis, desde que resultem em geração de alternativas e respostas ao problema em voga e que não sucumbam em ofensas e falácias.
Há muitos painéis temáticos que discutem nossos problemas de forma ampla e participativa. Mas raros têm aprofundamento.
Você percebe isso pela densidade dos argumentos, sua riqueza de detalhes, casos e experiências em outros lugares, pontos fortes e fracos, uma análise conjectural do ambiente, sob o qual novas medidas tentarão prevalecer e seus efeitos após serem desembarcadas no seio da sociedade, enfim..
Gosto de assistir a TV Justiça de vez em quando e ver os ministros do Supremo debaterem. Ali você tem debates de alto quilate, na maioria das vezes.
Mas meu ponto não é esse.
Quando você lida com gente, você receberá críticas. Desde cedo. Em casa e na escola.
Se você produz, receberá críticas. Se você não produz, também.
Madre Teresa foi criticada. Ghandi. Jesus. Sócrates, Aristóteles. Newton. Todos, sem exceção, receberam críticas pesadas.
Sempre haverá críticos prontos para rebater o que você fala e faz.
Posto dessa forma, eu quero que mais e mais pessoas saibam o que você faz e o valor que você gera. E deixe os críticos para lá.
Agora, quantas pessoas sabem o que você faz e produz? Quantas pessoas sabem qual é o valor que você gera para o mercado?
Umas 100, 200? ok. Mais de mil pessoas? Mais de 10 mil pessoas? Não importa esse número. Se é 20, 50 ou 500 mil.
Vamos ampliar.
Fácil não é. Mas temos uma caminho claro para fazer isso.
O primeiro passo é o seu.
Comece esmagando o gene ofendidinho dos outros, deixando-os literalmente no vácuo, enquanto você caminha irradiando o valor daquilo que produz para quem tem olhos para você e necessita do teu valor.
São os que realmente interessam.
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