Nível energético e disposição
Sempre foi um grande desafio para mim, manter o nível de energia e disposição física elevados.
Com o passar dos anos esse nível foi caindo e ainda com a imobilidade – a falsa mobilidade que a internet nos trouxe nos últimos 20 anos – acabei ficando mais parado do que nunca.
Virtualmente você pode fazer sentado, sem mover um passo ou mesmo deitado da sua cama:
- Pagamentos
- Vídeo-conferências e calls
- Estudar
- Compras de supermercado
- Reuniões de trabalho
- Desenvolver projetos
Digo, você pode trabalhar muito sem se deslocar fisicamente.
Isso tirou a disposição motora da maioria das pessoas que trabalha na frente de uma tela de computador e a minha também.
Esses dias eu vi uma repórter fazendo uma entrevista pelo skype com um famoso filósofo. Quase duas horas de entrevista que depois foram publicadas em revista de grande circulação. Revista essa que se pode ler de forma digital no seu smartphone.
Em 1997, li um livro de Tim Ferriss, “4 Hour Work Week” que trata de terceirizar o não essencial e usar a tecnologia para o essencial de forma que sejam necessárias apenas 4 horas por semana de trabalho.
Achei interessante, mas depois de aplicar os seus preceitos, ou pelo menos parte deles, me peguei trabalhando 100 horas por semana na frente de um computador. De fato, a produtividade não tem limites para ser alcançada. O problema é definir o que é ser produtivo.
Se ser produtivo é gerar resultados de curto prazo, como dinheiro por exemplo, realmente você não precisa se deslocar para fazer dinheiro, hoje em dia.
Agora, se produzir é algo que mede sua capacidade de criar ou gerar ativos, a conversa pode ser outra.
Por ativos eu quero dizer algo (quase) inalienável que produz por você. Conhecimento é um ativo.
E conhecimento para ser adquirido precisa de elevado nível energético. Daí entra o trabalho motor e o deslocamento. Seu corpo precisa de movimento para ativar corretamente seu cérebro.
Não digo para ir à academia, mesmo que isso resolva em parte. Metade do córtex é dedicado ao movimento. Mas a outra metade é dedicada a parte sensorial. Portanto é necessária a variedade sensorial para o aprendizado.
Parto do princípio biológico que somos treinados por pelo menos 300 mil anos a nos movimentarmos para caçar e cuidar da prole e toda evolução advém de movimento físico.
Apenas nos últimos 10 mil anos iniciamos a produção intelectual teórica e apenas nos últimos 30 anos recebemos essa sobrecarga de informações e que agora nos possibilita a cada vez mais ficarmos parados fisicamente.
A transição entre as telas que os cliques nos trazem pode liberar as dopaminas tão desejadas para excitação cerebral, mas essa é de curto prazo e necessita de permanente alimento, ou seja mais cliques, mais telas para os nossos olhos.
Perde-se toda experiência sensorial de se estar em um lugar e receber todos os outros estímulos que nosso cérebro por centenas de milhares de anos se preparou para receber.
Ao ficar parado fisicamente, você deixa de receber a variação de estímulos cinestésicos, e principalmente estímulos olfativos e visuais em três dimensões (e não planas) que mesmo subliminares são essenciais para o desenvolvimento humano.
Minha tese é que para obter conhecimento é necessário usar todos os sentidos.
O dilema está em porque se deslocar se virtualmente tudo está acessível na tela do nosso notebook.
Esse porquê é de motivação.
Com o passar dos anos nossa atenção ficou fragmentada.
Segundo Herbert Simon “A riqueza de informação cria pobreza de atenção, e com ela a necessidade de alocar a atenção de maneira eficiente em meio à abundância de fontes de informação disponíveis”.
Locomover-se significa estar menos vulnerável a essa sobrecarga de informação.
Acredito que daqui a 20 anos será notório o mal que esse superestímulo unidirecional está nos causando.
As pessoas que encontram-se paradas, estão olhando para os seus smartphones. Basta você verificar as pessoas nos shoppings, paradas de ônibus, restaurantes etc.
Para mim, a informática trouxe o paradoxo da mobilidade. Posso trabalhar de qualquer lugar, por isso não preciso ir a lugar algum.
E isso tem reduzido o nível energético e disposição não só meu, mas da grande maioria das pessoas que converso.
A cura? Sim, ir à academia, viajar etc. Mas também, eu acredito que a cura esteja em desligar os eletrônicos por um bom período ao longo do dia. Nem celular, nem micro, nem TV.
Fiz isso por 30 dias e foi impressionante o quanto melhorou minha disposição física.
Comecei desligando tudo às 8hs da noite. Depois reduzi para as às 6hs da tarde. A partir das 6hs nada eletrônico poderia ser ligado. Aí não sobram opções senão arrumar coisas, cozinhar e sair de casa, ou seja, mobilidade física.
As manhãs começaram a ser mais produtivas em termos de disposição e assim foi até ser solapado novamente devido a alguns cursos online que somente a noite eu poderia fazê-los.
Enfim, é uma luta. Se não usarmos o corpo ele definha, inclusive o cérebro.
Por isso os meus melhores cursos são presenciais.
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